Este texto foi publicado inicialmente pela autora Nancy Spiccia neste link como parte da publicação Journalism Innovation, da CUNY. Ele foi traduzido com autorização dos autores para compor os Learning Paths da Resource Library da NPA, de modo a aprimorar o conhecimento da comunidade da NPA sobre estratégia e geração de protótipos de produtos jornalísticos.

Criando uma startup de jornalismo para atender minha comunidade

O autor de bestsellers e empreendedor Seth Godin disse uma vez: "estudar o empreendedorismo sem empreender é como estudar apreciação musical sem escutar música ".

Na nossa aula Jornalismo Empreendedor na Graduate School of Journalism da CUNY se aprende fazendo. Em apenas cinco semanas, fomos requisitados por nosso professor, Jeremy Caplan, a desenvolver nossa própria startup de jornalismo para atender uma comunidade pela qual nos importamos.

Semana um: mergulhando

Para nos ajudar a escolher a comunidade que queríamos atender, cada um de nós colocou em uma lista os grupos dos quais fazemos parte, especialmente os que nos importam.

Eu soube imediatamente que queria me concentrar em um projeto de jornalismo para atender mulheres com problemas crônicos de saúde não resolvidos.

Essas mulheres estão frustradas pois a medicina tradicional não atendeu suas necessidades. Elas procuram soluções para além das limitações da medicina alopática para lidar efetivamente com seus problemas crônicos de saúde. Sua esperança é reverter seus problemas de saúde identificando e abordando a causa raiz.

Compreendo os desafios associados à doença crônica porque faço parte dessa comunidade. Eu lidei com problemas autoimunes crônicos por mais de duas décadas. Como Contadora Pública Certificada especializada no campo da saúde, estive envolvida na comunidade médica e fiz tudo o que meus médicos me prescreveram, mas minha saúde continuava se deteriorando.

Desesperada por encontrar respostas, passei anos pesquisando soluções complementares e alternativas. Por meio de tentativa e erro, encontrei eventualmente a ajuda que eu precisava para reverter completamente meus sintomas.

Criar uma startup que atenda as necessidades dessa comunidade é uma das minhas principais motivações para fazer um mestrado em jornalismo social.

Identificar os problemas

De acordo com o autor e guru empreendedor Paul Graham, a maioria das startups bem-sucedidas são criadas em resposta a um problema.

"Não tente pensar em ideias de startup; em vez disso, procure problemas, preferivelmente os que nós mesmos temos. - Paul Graham

Ao pesquisar sobre doenças crônicas e como afetam minha comunidade, aprendi alguns fatos importantes:

● Uma doença crônica é aquela que dura três ou mais meses, de acordo com o Centro Nacional de Estatística da Saúde dos Estados Unidos. O início e a progressão geralmente são lentos e podem durar toda uma vida. Exemplos comuns de doenças crônicas incluem diabetes tipo 2, doença cardíaca, câncer, artrite, demência e doenças autoimunes.

● Mais da metade dos adultos estadunidenses relatam ter um quadro crônico de saúde, de acordo com uma Pesquisa Nacional do Centros de Controle de Doença (CDC, na sigla em inglês) de 2012, sendo a maioria deles mulheres.

● Três doenças crônicas (doença cardíaca, diabetes e câncer), contribuem para sete de cada dez mortes nos Estados Unidos, de acordo com um relatório de um CDC de 2010.

● Um relatório de 2007, " An Unhealthy America: The Economic Burden of Chronic Disease" (Os Estados Unidos doentes: a carga econômica de uma doença crônica). estima que doenças crônicas custam à nação até 1,3 trilhões de dólares por ano.

● Doenças crônicas atingiram proporções epidêmicas, e nosso sistema médico atual parece não ter as ferramentas adequadas para prevenir e tratar doenças crônicas complexas. A maioria dos médicos relata que não estão adequadamente treinados para avaliar as causas subjacentes de doenças crônicas. Quase dois terços dos médicos sentem que estão mal treinados nas habilidades relacionadas ao atendimento de pacientes com doenças crônicas, de acordo com uma pesquisa nacional da Johns Hopkins com médicos clínicos, pediatras, internistas e cirurgiões.

Escutar as necessidades da comunidade: As entrevistas

Outra parte importante da nossa tarefa foi aprender mais sobre os problemas e as necessidades dos membros da comunidade por meio de entrevistas pessoais.

Nessas 16 dicas para entrevistas rápidas da Google Ventures , Michael Margolis oferece conselhos excelentes sobre como conduzir entrevistas eficazes.

Meu desafio era deixar de lado o que eu já sabia sobre minha comunidade e abordar cada entrevista com curiosidade. Eu queria permanecer neutra e decidida a escutar mais do que falar. Formulei perguntas abertas que gerariam respostas bem pensadas e uma melhor percepção das necessidades da minha comunidade.

Essa estratégia foi útil para criar fortes conexões com os membros da minha comunidade. Minha capacidade de demonstrar empatia com suas dores e frustrações exigiu que eu deixasse de fora o que eu mesma sentia.

Eis alguns pontos fundamentais das entrevistas com mulheres na minha comunidade:

Muitas vezes se sentem sobrecarregadas ao procurarem soluções fora da medicina tradicional, especialmente quando não se sentem bem.
Elas querem encontrar médicos qualificados para ajudá-las, mas muitas vezes não sabem por onde começar.
Muitas se sentem frustradas porque seus médicos tradicionais pararam de escutá-las. Elas querem ser escutadas.
Querem encontrar um médico que dedique seu tempo para identificar a causa raiz de sua doença crônica e abordá-la, não apenas gerenciá-la com uma prescrição de medicamento.
Elas querem aprender mais sobre medicina funcional - como a abordagem difere da medicina tradicional, o que é necessário, quanto custará para elas e como encontrar um médico experiente.
Muitas experimentaram com medicina complementar ou alternativa, como acupuntura, massagem terapêutica, yoga e outras terapias da saúde. Algumas coisas ajudaram e, outras, não.
Muitas temem que sua qualidade de vida se deteriore antes de encontrar o tratamento certo.
Muitas vezes se sentem sobrecarregadas e desesperadas por encontrar soluções de senso comum.

Uma mulher me disse: "Fui diagnosticada com artrite psoriática e me recomendaram um reumatologista renomado que me disse que se eu não tomasse Humira® imediatamente, ficaria cega e em cadeira de rodas em seis meses." Depois que o Humira® não funcionou, ela pediu uma segunda opinião. O médico, ofendido, ligou para o plano de saúde e eles a excluíram do seguro. Ela escolheu se consultar com um médico especialista em medicina funcional, que foi capaz de reverter seus sintomas em menos de um ano, e disse: "foi nada menos que um milagre."

Semana dois: Mapeando a Comunidade alvo

O mapeamento é uma etapa importante para entender uma comunidade e o que ela precisa. Aprendemos sobre algumas ferramentas de mapeamento excelentes para obter conhecimentos mais profundos.

O Lean Canvas

O Lean Canvas permite projetar o processo completo de uma startup em uma página para se concentrar nos problemas, nas soluções, nas vantagens competitivas e nas principais métricas.

Como não concluímos o protótipo da nossa startup, acabamos criando um Lean Canvas para um empreendimento já existente que aborda nossa comunidade. O exercício nos ajudaria a visualizar o processo do início ao fim.

Eu escolhi criar um Lean Canvas para um Website de saúde dirigido à minha comunidade, www.EverydayHealth.com. Consegui obter informações do seu último relatório anual .

Um elemento central do Lean Canvas é a proposta única de valor. É um conceito que explica o que seu produto ou serviço é em um alto nível. Ele descreve o que é que faz com que seu produto ou serviço seja único e valioso para o usuário.

A Vantagem competitiva descreve algo que não pode ser facilmente comprado ou copiado. Uma patente se enquadraria nessa categoria.

O Canvas da proposta de valor

O objetivo do Canvas da proposta de valor é identificar três coisas:

● Problemas – quais são os desafios, as frustrações e os possíveis resultados negativos?

● Ganhos – o que os faz felizes – quais resultados/benefícios procuram?

● Tarefas do cliente – as coisas que as pessoas querem que sejam feitas. Quais são as mais importantes?

Ao fazer o esquema dos problemas, dos ganhos e das tarefas dos membros da minha comunidade, pude desenvolver uma compreensão mais profunda do que eles precisavam e de como eles tentavam consegui-lo.

Canvas da Proposta de Valor da comunidade escolhida

Mapa de histórias do usuário

O Mapa de histórias do usuário é um diagrama que conta a história de alguém em nossa comunidade. Podemos esboçá-lo à mão ou usar um software, como eu.

Meu mapa de histórias descreve uma mulher com um quadro crônico de saúde que vai ao médico tradicional, faz exames e recebe um diagnóstico que coincide com um fármaco para tratar ou minimizar seus sintomas.

Ela está frustrada com a abordagem médica tradicional de sua doença crônica e está procurando opções alternativas de saúde. Ela explora essas opções na internet, conversando com amigos e, às vezes, segue uma indicação ou um anúncio.

Ela está muito preocupada em gastar dinheiro em serviços de saúde que não sejam cobertos pelo seu seguro de saúde.

Ela pode decidir experimentar com uma terapia alternativa ou médico integrativo.

Quando se sente sobrecarregada, fica indecisa e paralisada para tomar uma decisão e continua procurando ajuda até conseguir melhores informações.

Mapa de histórias do usuário da comunidade

O mapa de stakeholders

Para ajudar a identificar os stakeholders na minha comunidade, criei um Mapa de Stakeholders. Um stakeholder (parte interessada) é alguém que se importa com o que acontece em sua comunidade e com o que você faz (tanto positivo quanto negativo).

O mapa me ajudou a visualizar os principais stakeholders e a considerar a influência que eles podem ter sobre uma mulher na minha comunidade.

O mapa do cenário

O cenário inclui aqueles que procuram fornecer produtos ou serviços à comunidade. Em geral, as pessoas no cenário estão em um contexto comercial.

Muitas vezes, o cenário inclui aqueles que estão tentando lucrar com a comunidade, e, outras vezes, uma organização sem fins lucrativos que pode estar procurando maneiras de abordar a comunidade por um propósito não monetário que elas atendem.

Eu criei um mapa para mostrar os principais players no mercado para minha comunidade. Mapear o cenário da minha comunidade e as partes interessadas me deu uma visão geral de para onde estou indo. Esses mapas visuais fazem com que seja muito mais fácil ver as conexões, identificar os desafios e evitar perder oportunidades.

Perguntas "Como poderíamos...?"

De acordo com a D-School da Universidade de Stanford , as perguntas "Como poderíamos...?" (HMW, segundo a sigla em inglês) são perguntas curtas que provocam a troca de ideias".

Para aplicar as perguntas HMW, comecei com a declaração de um problema ou um ponto de vista (POV, segundo a sigla em inglês) para minha comunidade. O objetivo era dividir o problema em passos menores e viáveis através da troca de ideias com perguntas HMW. Esse é um exercício útil antes de debater as soluções.

As perguntas HMW ajudaram a estimular ideias criativas para resolver os problemas da minha comunidade.

Eis um exemplo de como usei as perguntas HMW para pensar em um problema específico na minha comunidade.

Exemplo de perguntas “Como poderíamos” para pensar soluções criativas para um problema.

Semana três: Avanço-progresso-promoção do produto

Nessa fase, deveríamos começar a desenvolver uma hipótese robusta. Poderíamos testar essa hipótese com um produto, um evento, uma newsletter ou algo mais que nos permita ver como as pessoas reagem.

Tudo o que tenho feito até agora tem levado ao desenvolvimento de um protótipo, um site que explicará a medicina funcional, seu valor e como ela se compara com uma abordagem médica tradicional.

Publicarei matérias sobre os desafios da medicina funcional e colaborarei com profissionais da medicina funcional para responder às perguntas.

O site apresentará matérias sobre a recuperação de mulheres que conseguiram reverter seus problemas crônicos de saúde com a medicina funcional.

Abordará um dos problemas mais comuns observados pelas mulheres que entrevistei: como encontrar médicos competentes especializados em medicina funcional.

Resposta de uma entrevistada membro da comunidade - "Eu acho que você está fazendo um trabalho ótimo. Deve ter outras pessoas lá fora que estão sofrendo como sofri, aparentemente sem nenhuma opção. A medicina funcional foi um milagre para mim. Divulgar que existem outras abordagens à cura é muito importante. Em nome das outras pessoas que precisam saber disso, obrigada por assumir essa tarefa. Pode fazer uma grande diferença."

Rascunho que mostra as características principais do site, de acordo com as necessidades manifestadas pela minha comunidade.

Agora estou desenvolvendo um site Wordpress como uma plataforma para atender as necessidades da minha comunidade. O ChronicHealthBridge.com fornecerá recursos para ajudar mulheres com doenças crônicas a explorarem a medicina funcional como uma possível solução para se recuperarem da doença crônica.

Se você tiver interesse neste projeto, fique à vontade para entrar em contato comigo por e-mail no nancy.spiccia@journalism.cuny.edu.

Obrigada a Jeremy Caplan.

De problema a protótipo em cinco semanas